Dr. Rafael Cadore

Pessoa fumando, praticando tabagismo

O que é considerado Tabagismo?

O tabagismo é a dependência física e psicológica provocada pelo consumo regular de tabaco, principalmente na forma de cigarros. A principal substância viciante presente no tabaco é a nicotina, que afeta diretamente o sistema nervoso central, causando dependência. O uso contínuo de tabaco está associado a inúmeras doenças graves, sendo considerado uma das principais causas evitáveis de morte no mundo.

Números do Tabagismo no Mundo e no Brasil

O tabagismo é considerado uma doença ( CID F17), possui alta prevalência de consumo devido principalmente ao fácil acesso e possuir uma ampla disponibilidade de compra. Com o início do uso em geral ainda na adolescência, pode-se afirmar que, virtualmente, todos os tabagistas terão alguma complicação relacionada ao hábito ao longo da vida. Atualmente, cerca de 100 mil pessoas se tornam tabagistas por dia, 1/3 da população mundial.

A fumaça do cigarro contém em torno de 4,7 mil toxinas e é a principal causa de desenvolvimento do câncer de pulmão, além de estar relacionada diretamente com cerca de outras 50 doenças. Entre as toxinas ou substâncias presentes no cigarro, está a nicotina, considerada a droga psicoativa que mais causa dependência. Cerca de 6 milhões de mortes por ano são causadas pelo tabagismo, onde 10% são pessoas não fumantes (ou seja, são tabagistas passivos vitimas da inalação da fumaça) e 80% dos casos acontecem em países de segundo e terceiro mundo.

No Brasil, o habito de fumar está presente em 20% dos homens e 14% das mulheres da nossa população, causando cerca de 200 mil mortes por ano, além de um rombo enorme nos cofres públicos. No final da década de 90 e inicio dos anos dois mil houve uma diminuição significativa da prevalência do tabagismo, devido a alta elevação das taxas de impostos e o inicio da proibição de propagandas incentivando a comercialização ou patrocínios ligados a atividade esportiva em especial. Porém, ao longo dos anos, o consumo voltou a se elevar, principalmente em mulheres jovens em idade reprodutiva ( novo perfil do tabagista do século 21)

Principais consequências do tabagismo

  1. Doenças Respiratórias

O cigarro é um dos maiores vilões das doenças respiratórias crônicas. Entre as mais comuns estão:

  • Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): O tabagismo é a principal causa dessa doença, que inclui condições como enfisema e bronquite crônica. Ela compromete a capacidade respiratória, levando à tosse crônica, falta de ar e, em casos graves, à insuficiência respiratória.
  • Câncer de pulmão: Mais de 80% dos casos de câncer de pulmão são atribuídos ao tabagismo. Este tipo de câncer é um dos mais letais e frequentemente diagnosticado em estágios avançados.
  • Infecções respiratórias: Fumantes têm maior risco de desenvolver infecções como pneumonia e gripe.

 

  1. Doenças Cardiovasculares

O tabagismo danifica os vasos sanguíneos e aumenta o risco de doenças cardiovasculares, sendo um fator importante para:

  • Infarto do miocárdio (ataque cardíaco): 
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Doença arterial periférica (DAOP)

 

  1. Cânceres Relacionados ao Tabagismo

Além do câncer de pulmão, o tabagismo está associado a uma série de outros tipos de câncer, como:

  • Câncer de laringe ( câncer de cabeça e pescoço)
  • Câncer de estomago e esofago
  • Câncer de rim e bexiga
  • Câncer de intestino
  • Câncer de colo de útero
  • Câncer de pâncreas 

 

  1. Complicações em Gravidez e Fertilidade

O tabagismo durante a gravidez pode causar sérios problemas para o feto, incluindo:

  • Parto prematuro e baixo peso ao nascer.
  • Aborto espontâneo.
  • Malformações congênitas.

Além disso, o tabagismo afeta tanto a fertilidade feminina quanto masculina, reduzindo as chances de concepção.

 

  1. Envelhecimento Precoce e Outras Complicações

O cigarro acelera o processo de envelhecimento da pele, levando a rugas e perda de elasticidade. A pele da pessoa que fuma sempre tem aparência mais desidratada e é por isso que pessoas que fumam aparentam serem mais velhas que a sua idade. Além de estar associado a outras complicações, como:

  • Úlceras gástricas.
  • Osteoporose.
  • Doenças periodontais (como a gengivite e a perda de dentes).

Como para de fumar?

Bem, o tratamento para parar de fumar é uma ação multidisciplinar e  necessita de vários passos, partindo sempre da vontade do paciente de cessar o tabagismo. Sem que o paciente esteja convencido a parar de fumar é muito difícil de conseguir, com falhas em torno de 70% das vezes, ou seja, a cada 10 pessoas que tentam parar de fumar somente 3 conseguem, caso não estejam motivadas e com tratamento otimizado. 

Abaixo listamos as melhores estratégias para o tratamento que incluem acompanhamento psicológico, reposição de nicotina, medicamentos para ansiedade e mudança de estilo de vida. Lembrando que existe o Programa Nacional de Cessação do Tabagismo ( PNCT) que é oferecido inclusive nas unidades básicas de saúde na rede pública pelo SUS.

Tratamentos para Parar de Fumar

Embora o tabagismo seja um vício difícil de abandonar, existem várias abordagens eficazes para auxiliar os fumantes a parar. O tratamento geralmente envolve uma combinação de terapia comportamental e farmacológica.

 

  1. Terapia Comportamental (acompanhamento psicológico)

O suporte psicológico é essencial para quem deseja parar de fumar. A terapia comportamental ajuda a identificar os gatilhos que levam ao hábito de fumar e a desenvolver estratégias para lidar com a vontade de fumar. Algumas abordagens incluem:

  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC): Foca na modificação dos padrões de pensamento que sustentam o vício e ensina novas formas de lidar com o estresse e outros gatilhos.
  • Grupos de apoio: Participar de grupos de apoio de ex-fumantes pode ser uma maneira eficaz de compartilhar experiências e obter motivação durante o processo de cessação.

 

  1. Terapias de Reposição de Nicotina (TRN)

As TRNs são medicamentos que fornecem nicotina em doses menores do que o cigarro, sem os outros componentes tóxicos presentes no tabaco. Elas ajudam a reduzir os sintomas de abstinência e a vontade de fumar. Entre os produtos disponíveis estão:

  • Adesivos de nicotina: São aplicados sobre a pele e liberam nicotina gradualmente.
  • Chicletes e pastilhas de nicotina: Liberam nicotina ao serem mascados ou dissolvidos.
  • Inaladores e sprays nasais: Entregam nicotina de forma rápida, imitando a ação de fumar.

 

  1. Tratamento medicamentoso

Alguns medicamentos prescritos podem ajudar a reduzir o desejo de fumar e os sintomas de abstinência. Os mais comuns são:

  • Bupropiona: Originalmente um antidepressivo, esse medicamento também é eficaz para ajudar as pessoas a parar de fumar, agindo no sistema nervoso central para reduzir o desejo pela nicotina.
  • Vareniclina: Atua diretamente nos receptores de nicotina no cérebro, aliviando os sintomas de abstinência e reduzindo os efeitos prazerosos de fumar.

 

  1. Técnicas Alternativas

Algumas pessoas encontram sucesso em tratamentos alternativos para parar de fumar, como:

  • Acupuntura: Embora as evidências científicas sejam limitadas, a acupuntura é usada por algumas pessoas para ajudar a reduzir os sintomas de abstinência.
  • Hipnose: Também não comprovada cientificamente de forma consistente, a hipnose é uma técnica usada para reprogramar os hábitos e pensamentos relacionados ao fumo.

 

  1. Mudanças no Estilo de Vida

É muito importante para quem está tentando parar de fumar mudar seus hábitos e rotinas diárias visando uma vida mais saudável e um ambiente livre de tabaco. Isso inclui: 

  • Praticar exercícios físicos: Atividade física ajuda a reduzir o estresse e os sintomas de abstinência.
  • Adotar uma dieta saudável: Evitar alimentos e bebidas que estão associados ao desejo de fumar, como álcool e café.
  • Criar um ambiente livre de cigarros: Eliminar objetos e cenários que possam lembrar o hábito de fumar.

Conclusão

O tabagismo é um dos principais fatores de risco para uma série de doenças graves, mas é um vício que pode ser tratado com sucesso. O processo de parar de fumar é desafiador, mas com o suporte adequado — seja por meio de terapias comportamentais, medicamentos ou terapias de reposição de nicotina — milhões de pessoas conseguem abandonar o vício e melhorar significativamente sua saúde e qualidade de vida.

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